O
conhecimento é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados (alguém mais
inteligente e mais vivido do que eu com certeza já deve ter dito isso antes).
Somos seres banais, superficiais e fúteis, quem disser o contrário disso é
porque, além dessas três coisas, é mentiroso também. Há que se compreender que
o excesso de informação de nossos dias não gera, por si só, conhecimento, pois,
para se chegar ao conhecimento, é preciso selecionar qualitativamente as informações
úteis num arcabouço que tenha pelo menos dois elementos: lógica interna e
lastro na realidade.
Sim, sou eu,
eu sou o Grande Fingidor,
fingindo que o meu coração é
seu,
fingindo que tudo está bem,
fazendo do mundo o meu palco,
buscando sempre novas paragens.
***
Eu sou
tão líquido quanto a
modernidade,
tão real e absurdo quanto a
vida,
tão obsessivo e irracional
quanto o ser.
Prisioneiro que sou da
liberdade,
chego a acreditar em tudo,
até mesmo no amor.
***
Sou, enfim, o grande
ressentido,
o falso altruísta, o grande
demagogo.
Sou a verborragia desvairada e
pedante,
a piedade não piedosa e a
incongruência.
***
Sou porque percebo o Tempo e
contemplo o Nada.
setembro 09, 2016
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Mirando
o espelho, vejo, aterrado, a minha própria deterioração. Vislumbro então o
esboço de um futuro nada promissor, e, de uma forma quase que instintiva,
percorro o meu passado em busca de algo um pouco mais acolhedor. Regresso,
pois, ao precioso momento em que achei que tivesse me encontrado finalmente
comigo mesmo diante da presença de uma pessoa que me era, naquela época, muito
querida; sussurro as palavras: fique comigo, não me abandone; sim, tudo agora
está envolto nas brumas inexoráveis do tempo.
setembro 09, 2016
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Estar
certo ou ser feliz – eis a questão. A grande maioria das pessoas prefere sem
titubear a segunda alternativa, achando que assim poderão estar certas também,
o que pode se mostrar um grande erro a longo prazo, pois a maior
improbabilidade que existe é a probabilidade de que tudo esteja ao nosso
alcance e controle. Não é à toa que o mundo é do jeito que é, e isso não é de
hoje, quem sabe os homens do Paleolítico fossem bem menos lascados do que nós;
a vida poderia ser muito mais dura naquela época, no entanto, devido sobretudo
às necessidades de sobrevivência da espécie, não havia tanto tempo ocioso para
ficar pensando em determinadas bobagens.
Mas voltando à questão inicial, os debates de ideias hoje em dia possuem
quase sempre apenas um lado - geralmente o mais errado e estúpido. Ninguém quer
mais procurar fatos e evidências. Refutar, aprofundar ou discutir algo dá muito
trabalho, o melhor é aceitar que as coisas são como são, não duvidando de nada.
Complicar pra quê, não é mesmo!? O melhor talvez seja ir tomar um sorvete,
agora! Como dizem, o universo está sempre conspirando a nosso favor, é...
talvez ele não tenha muito o que fazer.
agosto 28, 2016
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Há
muito tempo, numa galáxia muito, muito desimportante, num quadrante esquecido
de um sistema solar ainda mais desimportante, encontramos um pálido ponto azul;
ao nos aproximarmos, porém, um pouco mais, verificamos tratar-se de um pequeno
planeta praticamente inofensivo e irrelevante. Os habitantes, quase sempre
entediados, desse planeta queriam audaciosamente chegar aonde nenhuma espécie
jamais esteve, pois achavam que assim, de alguma forma, sentiriam um pouco
menos de tédio.
Para
tal grandiloquente objetivo criaram e desenvolveram supercomputadores,
foguetes, satélites, robôs e naves espaciais. Primeiramente, colonizaram a lua
próxima, depois o planeta vizinho, o que consideraram apenas conquistas de
pouca monta, por isso, ainda insatisfeitos, saíram em busca de planetas
habitáveis fora de seu próprio sistema solar. E, para que esse intento fosse
possível, construíram uma grande espaçonave usando toda a tecnologia e ciência
acumuladas; uma nave totalmente autossuficiente para abrigar várias gerações
dessa espécie audaciosa e entediada, pois, já que se tratava de uma viagem
muito, muito longa, uma viagem na qual o curso inteiro de uma vida não era
quase nada, a nave teria que ser um lar, mesmo que provisório, para os vários
descendentes da equipe de bordo original.
A
viagem inicia-se. Gerações e gerações se sucedem. Após muito tempo perdidos no
espaço, enfrentando vários problemas técnicos, éticos e falhas no computador
central, não encontram nenhum planeta que possa sustentar minimamente a vida,
muito menos encontram outras formas de vida. A viagem prossegue. A imensidão e
o vazio parecem não ter fim. O objetivo inicial da missão acaba sendo
esquecido, e histórias e mitos, consequentemente, passam a povoar o imaginário
dessa desalentada tripulação.
Centenas
de anos depois, quando todos já não tinham quase mais nenhuma esperança, acabam
encontrando um sistema solar com colônias abandonadas. Ficam todos eufóricos
com a concretização de um sonho: realmente existe vida no universo, e vida
inteligente! Procuram avidamente por todos os lados, mas só encontram
resquícios de uma antiga e avançada civilização há muito extinta.
De repente,
uma esfera de um azul estonteante é detectada pelos radares e sensores da nave.
O computador central confirma a compatibilidade do planeta – finalmente um
lugar habitável. Após uma aterrisagem perigosa, os sobreviventes desta longa
jornada ficam extasiados com o que veem: imensas florestas, rios, mares e
oceanos, além de uma diversidade muito grande de seres vivos, formada
basicamente por animais estranhos com uma baixa capacidade cognitiva.
Curiosamente,
em algumas partes desse planeta abandonado, ainda era possível encontrar
pequenos sítios arqueológicos deixados pelos primeiros habitantes daquele
mundo. Muitas hipóteses do que teria acontecido foram aventadas, contudo, com o
tempo, até mesmo estas histórias acabaram no esquecimento. O planeta foi, aos
poucos, totalmente colonizado.
Porém,
apesar de tudo, o tédio ainda persistia.
agosto 10, 2016
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Uma
avenida de ipês amarelos; um coreto com peixes coloridos; vários restaurantes e
muita água rolando por baixo de uma velha ponte; uma igreja com suas colunas e
altares laterais; um colégio e seu porão; um coração de fumaça desfazendo-se
num céu de brigadeiro; uma estação de trem chamada vida; uma terra de amores, sonhos e
alegrias...
agosto 06, 2016
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Sussurro no seu ouvido palavras
desconexas.
O vento fustiga as janelas.
Aqui, com você, está quente,
mas lá fora a tempestade ruge.
Por um instante a existência
parece fazer algum sentido.
Eu sei que, ao canto da
cotovia, tudo se dissolverá,
(ah, o rolo compressor da
realidade)
mesmo assim, neste momento,
quero apenas contemplar
um pouquinho mais as curvas
suaves do seu corpo,
fixar na minha memória o seu
sorriso.
julho 29, 2016
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Já fui pra Pasárgada – lá não
me quiseram.
Já tropecei na pedra do caminho
largo.
Fui ao meu amor sempre atento,
mas não durou muito.
Hoje, a minha vida não está
completa,
nem tocar um tango argentino eu
posso mais.
Fico aqui, com esta minha fala
entupida,
compondo quimeras,
buscando regressar à terra das
palmeiras
e do sabiá.
julho 27, 2016
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Tropeço na noção de tempo
e me esparramo na relva
molhada;
contemplo nuvens de glórias
passageiras
até mergulhar num céu
azul-piscina.
Volto aos tempos de criança.
Há uma toca de coelho no meu
jardim;
faço-me de explorador e,
audacioso,
encontro Beatriz e Virgílio
pelo caminho.
Hipopótamo, anos, séculos,
eras...
Tudo retorna para o mesmo
ponto,
para a mesma singularidade.
A vertigem finalmente passa,
descerro os olhos:
nuvens,
céu azul, infinito
julho 26, 2016
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Uma longa noite
frio
muitas estrelas brilham num céu
de abandono
O passado reverbera...
tantas esperanças, tantos sonhos
Os predadores estão por todos
os lados
Os recursos são escassos
Ao redor de uma fogueira
improvisada
homens contam histórias sobre
homens
que contam histórias.
julho 24, 2016
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O frio
estava intenso; a neblina dava à rua um ar de imaterialidade. O sol, ainda
tímido, exalava os seus primeiros suspiros. Meus passos candentes abriam
caminho através da cidade solitária. Aos poucos, as casas foram criando vida, e
as ruas ficaram cheias: pedestres, cachorros, carros, bicicletas, crianças,
conversações, gritos, latidos e buzinas. A ordem estava de novo estabelecida.
julho 22, 2016
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julho 22, 2016
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virei à
esquerda
depois
à direita
acabei
na contramão
Tentei
corrigir a minha rota de colisão, mas não deu certo: avancei mais uma vez o
sinal vermelho. Parei por causa da faixa de pedestres; vi uma mãe que passava
segurando o filhinho pela mão. Pensei comigo se eu não poderia ser, no outro,
alguém... escapar desta nossa insustentável condição.
julho 21, 2016
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Vou
chamar o técnico da felicidade para ver se conserto esse desconforto permanente
que sinto. Depois irei ao hipermercado comprar um pouco de espiritualidade em
conserva. O dia está tão lindo! Ah, pare de falar dessas bobagens... Quero
apenas me divertir mais um pouco; a vida passa tão rápido. Você vem ou não vem?
julho 21, 2016
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julho 21, 2016
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