Vestida para matar,
ela cultiva a melancolia,
a loucura, a ira,
a Esperança Radioativa.
Mesmo vagando por um mundo de
conformismo e falta de imaginação,
nada a impede de fazer o que
quer,
de ser simplesmente sonho,
desejo, realidade.
Vestida para matar,
ela cultiva a melancolia,
a loucura, a ira,
a Esperança Radioativa.
Mesmo vagando por um mundo de
conformismo e falta de imaginação,
nada a impede de fazer o que
quer,
de ser simplesmente sonho,
desejo, realidade.
Eu canto
um canto triste,
cheio de saudade.
Não tenho um cantinho que seja só
meu
nem mesmo tenho um violão;
só o que me resta são os meus
versos.
***
Carrego comigo um sentimento sem
nome,
um aperto, um descontentamento,
uma devoção perpétua aos Filósofos
e Poetas nascidos para cantar a tragédia da condição humana.
***
Eu desafino ao ver o sonho
dilacerado,
desafino ao sentir a relva
molhada,
o musgo frio, a lua, o abismo, o Nada.
***
Palpitações, euforia, desejo, loucura
e estranhamento;
efêmeros cânticos que me levam à
eternidade.
Há um tênue fio que une todas as
coisas vivas,
e há também um quê de empatia e
amor que facilmente se dissolve,
seja por pura inconsistência
humana ou pela simples ação do tempo;
transformações contínuas que nos
levam para longe de nós mesmos,
que nos fazem estranhos, loucos, habitando
um velho e mesmo invólucro.
Aquilo que parecia ser feito para
durar por toda uma vida,
aquilo que nunca se dissiparia
– nem mesmo quando os últimos
poetas caminhassem por ruas desertas –,
mostra-se falível, frágil e
evanescente.
Muitas vezes uma sensação absurda
começa a crescer dentro do peito,
uma vontade de acabar com tudo,
um desejo secreto de esquecer e
ser esquecido;
e outras tantas vezes uma
estranha vontade de resistir,
de dançar descalço à beira do
abismo,
brota com uma força imensa, incontrolável.
Stradivarius, Fabergé
eu e você
Ultraviolência
nascidos para morrer
Um coração selvagem
ecos de uma tristeza profunda
No verão, sob um céu azul imenso,
vejo rastros de aviões perdidos,
trilhas de condensação que me revelam
a evanescente concretude do
mundo.
Cinzas, Amor, Arte... da ilusão
um desejo insano pela vida
Paraíso, Sol, pó da Estrada
caminhos incertos que me destroem
A migração dos flamingos
natureza incongruente das coisas
E uma antiga canção
você e eu
Silêncio. Eu tentei, juro que tentei,
mas você não me ouviu,
nem mesmo disfarçou a sua
indiferença.
Desespero. Nas tristes horas da
noite,
eu vislumbro o açoite da desesperança,
dilacerando sonhos e expectativas.
Solidão. As cortinas estão fechadas,
e meu corpo, definhando,
angustia-se com o nada que me
consome.
Aurora. São tantas as portas,
tantos os caminhos da solidão, ou
do coração;
tento apenas quebrar o ciclo uma
última vez.
Desconectado, fora de área, sem serviço...
Na noite, incomunicável,
ouço apenas silêncio, dor e
pranto.
Você não está mais aqui.
Na verdade, quase todos já foram
embora.
E, por incrível que pareça, o
desespero ainda não tomou conta de mim.
Não vivo uma vida cor-de-rosa,
não fico cantarolando canções de
amor e ódio,
mas nem por isso desmereço o pouco
que tenho;
há certas coisas que não eram
mesmo para ser.
Bem, sei lá.
Tento mais uma vez ligar pra
você,
mandar uma mensagem,
um áudio...
(Sim, eu sei: Pura
incongruência!)
E continuo desconectado, fora de
área, sem serviço...
Se eu não amasse tanto a vida,
já teria partido sem destino,
fincado minha bandeira no solo
infértil da amargura,
abandonado de uma vez toda e
qualquer canção de amor.
Ah, se eu não amasse,
se de tudo eu duvidasse,
quão mísera seria a minha
existência,
quão patéticos seriam os meus
dias.
Há algo de muito leve,
transbordante,
no ato de doar-se;
sair de si mesmo é como abrir
asas e voar,
é descobrir o encanto ao redor.
Doce pode ser a vida para além
dos muros,
grades e cercas de arame farpado
que muitas vezes edificamos para
nos proteger.
É o fim. É o fim de tudo, eu sei.
Quando eu voltar, você não estará
mais lá;
casa vazia, coração em pranto,
e nas mãos o açoite da realidade.
Eu me arrastarei por entre
cômodos e incômodos,
calado, ouvindo palavras que você
nunca disse,
tentando, em vão, me iludir.
Nas estantes, livros cheios de
traços e traças;
nas paredes, fotografias em preto
e branco.
As gavetas estarão vazias,
a cama estará desarrumada,
minha vida, desaprumada.
O tempo começará a desmoronar,
e eu me sentirei despatriado,
perdido dentro de mim,
caminhando rumo a lugar nenhum.
Rosas desvairadas,
crisântemos tristonhos,
lírios orgulhosos,
gerânios obstinados;
sim, o teu jardim tem muitas
flores.
***
Por alamedas bem cuidadas,
por campos de amoras silvestres,
vou djavaneando o meu amor,
desaguando o que sinto
no oceano sem fim da insensatez,
cantando as glórias de um céu
azulzinho,
de uma correnteza lilás e outras
cores.
***
Vejo uma semente crescer no meu
coração,
pressinto no ar, mesmo neste dia frio,
uma força singela, coisa mais bela:
uma vida ao teu lado cheia de novos
sabores.
Às vezes rimo, às vezes não rimo,
e logo depois me vejo correndo
descalço pelos campos da meninice,
afagando sonhos e versos,
polinizando amorosas flores.
Aos meus pés, uma planta
pequenina,
frágil como tudo aquilo que há de
mais bonito nesta vida,
que cresce, cresce, cresce
e se torna árvore sem medo,
em cuja sombra me calo e envelheço.
À noite, quando os pássaros
voltam aos seus ninhos,
quando frio se faz presente,
tento recordar uma velha cantiga
de viver;
e eis que o tempo, a vida, tudo, de
repente, se transforma em água,
salobra, calma, lúcida;
e eu, pobre criança mergulhada
no mistério,
me transubstancio também em Mar Absoluto.
Palavras ao vento, perdidas no
tempo;
resquícios e relíquias
de almas que não se encontram,
de vidas que não se cruzam.
Palavras de desalento e
desencanto,
ferinas, amargas,
sinônimas de cicatriz, dor e pranto.
Palavras sussurradas ao pé do
ouvido,
com carinho e cuidado,
que reverberam nos sedentos
corações.
Palavras secretas, inconfessáveis,
guardadas a sete chaves.
Palavras de gratidão e prece,
inaudíveis, transcendentes.
Palavras e seus significados
semânticos
e românticos.
Palavras: Caos e Silêncio.
Não há mais o que dizer, fazer;
dor, saudade e luto se misturam
com a perplexidade deste momento.
Mês de maio, frio, chuva,
silêncio...
Ainda ontem você estava aqui,
simples e amável,
me ensinando as coisas da vida.
Ainda ontem você me embalava
com canções de carinho e aconchego.
Hoje meus olhos estão embaçados,
meus dedos, trêmulos,
minha vida, triste.
***
O vento da estação sopra mais uma
vez,
e tudo parece tão igual – quase
normal –,
as mesmas pessoas, as mesmas
ruas,
e as mesmas conversas.
Tudo tão igual...
Minhas palavras se evaporam
Meus pensamentos se diluem
Mergulho cada vez mais fundo
Miro a última ilusão desfeita
Maldigo paixões arrefecidas
Mastros e velas destruídas
Naufrágio além do horizonte
Nebulosas memórias e tempestades
Nítidas angústias ao vento do norte
Nada, porém, que me faça desistir
Ondas, fluxo, vida e calmaria
O tempo e amor restantes.
Eras tu ontem
– não poderia ser mais ninguém –,
seguindo os meus passos,
revolucionando a minha realidade.
***
Estás nos devaneios que tenho,
nos pobres versos que aqui
despejo,
nas alamedas e canteiros do meu
labiríntico coração.
Vejo-te em tudo, mas nunca
diretamente,
nunca tête-à-tête.
***
És a folha ao vento no outono,
o canto da ave liberta na
primavera,
o brilho de um olhar que
transcende qualquer estação.
És ritmo, passagem, tempo:
aurora e crepúsculo.
som e silêncio.
Versos que componho,
decomponho,
e que me rasgam a pele.
Versos, sim, dilacerantes,
delirantes,
que brotam dos rochedos,
dos ermos sítios da solidão.
Versos que gritam e se evaporam
na noite silenciosa do mundo.
E no baço espelho da vida,
uma estranha face,
uma quimérica imagem,
um vulto desesperançado.
Seja na frente ou no verso:
páginas e páginas cobertas por
uma prosa antipoética cheia de rabiscos, vozes e palavras desconexas.