Naquele
dia, a tristeza se infiltrou por todos os poros de sua vida. As poucas
esperanças que ainda residiam em seu coração fizeram as malas e partiram para
nunca mais voltar. Posses, não tinha, havia perdido aos poucos tudo aquilo que
possuía de mais importante. Quanto aos amigos, chegara à conclusão de que,
verdadeiros, nunca tivera algum. Desejara inclusive chorar, porém, até as
lágrimas lhe faltavam. Não sentia mais o chão aos seus pés, só carregava
consigo agora a dor, o desespero e o pó da estrada. Qualquer um na mesma
situação teria posto um fim a esse sofrimento, extinguindo, de uma vez por
todas, tal mísera existência – melhor talvez nunca ter nascido, pensava ele em
sua angústia. Porém, este homem que aqui retrato não se entregaria assim tão
facilmente, ninguém o derrubaria; nenhuma tormenta, por mais forte que fosse,
retiraria dele a vontade de prosseguir e alcançar aquilo que mais desejava.
Entretanto, ele não sabia ao certo o que era aquilo que mais desejava, mas
sabia instintivamente que se tratava de algo grandioso. Ele enfim compreendia
que, apesar de toda dor, a sua busca estava apenas começando.
Eu
sinto que, de certa forma, destruo tudo aquilo que toco. A solidão, ausente por
um breve período, retorna ainda mais forte. O mesmo silêncio; a mesma falta de
sentido; tudo insípido e desesperante. A noite é longa e sem mistérios. Caio no
sono, um sono sem sonhos.
janeiro 02, 2018
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Estamos irremediavelmente
sozinhos,
abandonados à própria sorte,
e não há nada nem ninguém que
possa
mudar tal realidade.
Caminhamos sem rumo, em busca
de algum significado;
qualquer coisa serve, desde que
nos ajude a sair do pântano caótico em que nos achamos mergulhados.
Somos bestas-feras caminhando
num mundo besta-fera,
somos animais sobrevivendo ao
pior dos predadores:
o Tempo.
dezembro 25, 2017
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Antes
da Era dos Alienistas e do surgimento de instituições manicomiais, a loucura
era vista popularmente como uma forma de sabedoria, pois, naquela remota época,
a fé cega na razão ainda não tinha se tornado dominante, como o é hoje, em
todas as esferas da vida. Neste sentido, afastar-se da verdade para manter a
sanidade nada mais é do que uma atitude de bom senso, pois, epistemologicamente
falando, é bem provável que nunca alcancemos a verdade absoluta. Na realidade,
uma pergunta leva à outra; quanto mais respostas obtemos, mais perguntas nos
são apresentadas; é uma busca infinita – e como é fácil se perder em uma busca
infinita! Achar que a Verdade pode ser encontrada é abandonar o Reino da
Dúvida, é abraçar de vez a insensatez e a loucura, no caso, a própria loucura.
E quantos vemos por aí que afirmam, em alto e bom som, que já a encontraram!
Estes profetas de si mesmos, após a sua iluminação, tentam a todo custo
espalhar a sua verdade, querendo que o mundo seja totalmente reconstruído à
imagem e semelhança de seu ideário particular.
Dizem que a verdade é insuportável, que não devemos, para o nosso
próprio bem, nos aprofundarmos em certos assuntos, mas isso só é verdade para
os iniciantes e para aqueles que não conseguem lidar com certos fatos. Para sermos
minimamente felizes – uma felicidade possível, não ideal –, devemos aceitar que
a verdade em seu sentido amplo talvez não seja alcançável; que a nossa razão é
limitada e que ela não consegue abarcar tudo; que não existe nenhum sentido a
priori para a vida; que a vida, por sua vez, é precária e cheia de
contingências; por fim, que é melhor que a vida tenha gosto, prazeres e
sensações gratificantes do que falsas certezas absolutas.
dezembro 10, 2017
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Em
minha tranquilidade, muitos excessos; em seus excessos, muita tranquilidade.
Você é detentora de uma loucura turbilhonante; eu possuo apenas uma loucura
serena. Somos seres inconstantes, incompletos e insatisfeitos. Somos, enfim,
seres desejantes; porém desejamos coisas diferentes. Somos opostos, mas talvez
não sejamos complementares, sendo a complementariedade, no sentido pleno do
termo, algo utópico, inalcançável. No entanto, ao nosso modo, agregamos sempre
algo um ao outro.
***
Vemos o
mundo sob prismas distintos: você acha que há algo para além desta jornada e
eu, por outro lado, acho que a jornada é o que há, nada além disso. Se me digo
realista; você, romântica. Se vejo empecilhos; você, oportunidades. Você diz
que podemos nos reinventar, ser aquilo que quisermos, mas eu penso que certas
coisas nunca mudam.
***
Esquisitos,
loucos, melancólicos, alegres; ora profundos, ora rasos; ora perdidos, ora
encontrados; eis um pouco do que somos – pois não ousamos nos delimitarmos. Há
sempre um caminho a percorrer, até não haver mais caminho algum. Tudo, em se
tratando da vida, uma questão de tempo.
***
novembro 09, 2017
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Tu serás para sempre um
furacão;
eu, uma leve brisa.
Ao ver-te pela primeira vez,
fiquei petrificado;
Medusa, bela musa, oráculo,
qual resposta abre tal cadeado?
E, claro!, não decifrando-te,
devorado fui por um sentimento
inexplicável;
revolves tudo por onde passas,
e eu, aturdido, espero a
calmaria,
pois bem sei que só nos
rencontraremos
ao findar do dia.
outubro 10, 2017
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Em meu corpo sinto o pó da
estrada;
suor, lágrimas, cansaço e nada.
Viola na mão, entoo uma triste
canção.
Aos poucos, pessoas se reúnem
para ouvir o meu pobre cantar.
Uma criança sorri...
Alguém faz uma piada,
e o clima melhora;
juntos, esperamos por mais uma
aurora.
setembro 16, 2017
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Agarro, dilacero e profano
o objeto proibido do meu
desejo.
Coloco-o ao rés do chão
e turvamente entrevejo
os ecos malditos do não.
Passado algum tempo,
nada subsiste daquilo que era
interdito.
O sagrado é agora um fato
esquecido;
não se ouve mais nenhum
grito...
É tudo história de um tempo
ido.
Resta apenas o vazio das coisas
sempre iguais;
o valor sem valor de tudo
aquilo que não existe mais.
setembro 14, 2017
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Casta Diva, Sempre Libera, Lua
Adversa...
És, a um só tempo, som e fúria,
luz e sombra, magnificência e
amargura,
inspiração para luminosos e
festivos dias,
terror e caos dependendo das
circunstâncias.
Apesar de tudo, das dores,
loucuras e tremores,
suplico-te:
– Oxigena-me a cada instante,
pois só assim a criação se
torna possível,
só assim o dia tarda a se
transmutar em noite.![]() |
Três Cárites (Graças) |
setembro 07, 2017
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Você
precisa ser forte, porque a vida não foi feita para os fracos. Não há um
sentido nem caminhos predefinidos. Você tem que fazer as próprias escolhas,
pois ninguém virá lhe socorrer ou lhe indicar a melhor opção. A liberdade pesa
demasiadamente. Preferimos, por isso, o conforto de escapismos vários. Chegamos
a achar que qualquer coisa é preferível ao contato doloroso com a realidade. Em
vez de superarmos as perdas inevitáveis da vida, ficamos presos em ciclos
intermináveis de autopiedade. A decisão está em nossas mãos. Sempre esteve.
Negar isso é infantilizar-se. É não ousar.
agosto 17, 2017
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Em meio à chuva intempestiva,
ao estrondo dos trovões,
um relâmpago de repente
ilumina.
E numa revoada de sonhos e
pássaros,
ouvindo o som das lágrimas nas
calhas
de uma cidade esquecida,
sinto o clima crescente do
silêncio
que aos poucos me enlaça,
fazendo nascer
no arco-celeste
uma nova vida.
agosto 17, 2017
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Segredos, mentiras, limites
Desejos, loucuras, obsessões
Totalmente fora de controle
Mais um passo... rumo ao abismo
Advertências ignoradas
Descompasso
Derrota da razão
Força primal rediviva.
julho 09, 2017
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Perdi o meu ponto de
ancoragem...
A concretude ilusória dos meus
devaneios se esfacela ao contato do real.
9,8 m/s²
Queda livre
Impacto em T-minus 10, 9, 9.9,
9.8, 9.7...
Nunca chegarei ao fim!?
junho 13, 2017
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“A visceralidade da vida só
atingirá a sua plenitude quando renunciarmos a todo delírio utópico e a toda
febre metafísica.”
junho 12, 2017
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Amo
sobretudo aquelas pessoas que possuem um espírito tão atormentado quanto o meu.
Vejo nelas, como num espelho, a exasperação contínua da angústia de se saber
verdadeiramente incompleto e finito. Nada é mais cansativo e entediante do que
a superficialidade de quem se acha muito profundo, sensato e bondoso. O mundo é
dos loucos e trôpegos, daqueles que, com seu passo cambiante e torto, vivem
assolados por constantes cumes e abismos internos – só encontramos autênticas
reverberações nos espíritos que ousam ir além da dor.
junho 12, 2017
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