Se
arrependimento matasse, sobrariam no mundo apenas os psicopatas, os sociopatas
e, principalmente, muitos políticos; este infelizmente é um breve resumo de
tudo o que aconteceu. Pode parecer fantástico e irreal, porém, como estou muito
doente, quero deixar aqui o meu relato. Não sei se essas minhas palavras serão
lidas algum dia, não custa tentar.
O mundo
seguia o seu ritmo normal e enfadonho. Um dia ouvimos falar sobre uma estranha epidemia
que se alastrava por toda a Europa. A doença era rápida e letal. Toda a
comunidade científica se debruçou sobre o caso em busca de respostas, mas nada
descobriram. Aparentemente, nada daquilo fazia sentido. Aos poucos, a doença
foi se espalhando para todos os outros continentes, causando uma mortandade
nunca vista antes.
O
momento mais difícil foi quando comecei a perder amigos, mulher e filhos.
Fiquei totalmente desnorteado. Passei a perambular pelas ruas quase desertas de
um mundo desolado. Para não enlouquecer busquei, com todas as minhas forças,
encontrar uma resposta para tudo aquilo. Queria de toda forma descobrir a causa
deste mal inexplicável.
Passei
então a observar atentamente aqueles que tinham sobrevivido, e para o meu
espanto, depois de muito tempo, percebi que aqueles que passaram ilesos pelo
contágio eram, em sua grande maioria, pessoas que não sentiam nenhuma empatia
pelo próximo.
Comecei
a refletir sobre a razão de minha permanência neste mundo, chegando a duas
conclusões, ambas errôneas. Primeiramente, eu pensei que era, como os outros
sobreviventes, também uma pessoa sem coração, incapaz de me comover com o
sofrimento alheio. Depois, seguindo outra linha lógica, pensei que talvez este
fosse o sinal de que eu era a única pessoa normal, quem sabe até uma espécie de
escolhido, um salvador da humanidade.
Agora
que estou acamado e muito fraco, percebo o meu engano. Eu estava provavelmente
no meio do caminho, a minha insensibilidade não era ainda completa, por isso a
doença demorou tanto para revelar os seus sintomas em mim. O meu fim será, de
certa forma, também a minha vitória. Não sei se estou certo, talvez haja alguma
outra explicação para tudo o que aconteceu, quem sabe alguma superbactéria ou
um vírus geneticamente modificado... A única coisa que sei neste momento é que
estou contente com a minha explicação.
"O
homem é a medida de todas as coisas", essa máxima do antigo filósofo grego
ainda é, de certa forma, muito válida hoje em dia, pois, no que concerne a nós
mesmos, aos nossos sentimentos e sofrimentos, não possuímos outros parâmetros
que não os nossos. Toda experiência humana é única e intransferível. Ninguém
sabe exatamente, nem nunca saberá, qual é o mistério escondido por trás de cada
existência. Somente nós podemos descortinar o nosso próprio mistério, porém –
eis uma verdade insofismável – não somos capazes de comunicá-lo a ninguém.
Racionalmente,
desvendamos o mundo. Buscamos repostas para tudo. Criamos padrões, leis e
teorias. No entanto, não possuímos a noção exata do número de coisas que
desconhecemos, não sabemos, portanto, qual é ao certo o tamanho da nossa
ignorância. É claro que o “não saber” deve ser sempre um estímulo para o “saber
mais”. Porém, não podemos aspirar ao pleno conhecimento. É uma ilusão muito
atraente acreditar na infalibilidade racional do homem. A nossa pretensão
intelectual será sempre frustrada por dois simples fatos: primeiro, a vida é
curta; segundo, a nossa capacidade cognitiva é limitada. Em cada infinito
existe muitos outros infinitos. Toda resposta leva inevitavelmente a uma nova
pergunta.
“Ninguém
pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não
se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Assim, tudo é
regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é
sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários.” (Heráclito)
Linda, linda moça, ouça o seu coração! Saiba que não há amanhã, não há caminho de volta. Aqui uma conversa moderna : você é minh...
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