Uma
ânsia maldita por perder-se em alguém, encontrando assim algo que tenha algum
brilho, mesmo que parco, em meio a um mundo opaco de afetos. Uma ânsia maldita
que habita o âmago de minhas trevas, que permeia toda a aridez desta alma
sedenta por qualquer resquício de algo que minimamente me transcenda. Uma vida
como um eterno caminhar sem sentido, com pés ensanguentados, até o lúgubre
abismo. Uma vida como um grito de agonia silencioso que nunca será ouvido.
Descrevê-la como corajosa,
espontânea, autêntica,
é de uma obviedade ululante.
Por certo, caso eu lhe dissesse
algo do gênero,
ela me responderia:
"diga-me algo novo, por
favor,
alguma coisa que eu ainda não saiba".
Eu ficaria então perdido,
atônito, sem palavras.
Meu
encantamento por ti me faz emudecer;
sou um
escravo da beleza e do desejo.
Depois do susto, faria de tudo para
lhe agradar,
diria o que não sinto,
multiplicaria palavras sem
necessidade.
Ela perceberia o simulacro,
leria sagazmente as
entrelinhas,
abria as asas e voaria para longe.
abril 27, 2020
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Explosão de cores, sons e
sensações:
algo aconteceu em mim.
Não me sinto mais o mesmo;
o espelho reflete uma estranha
imagem.
Estou perdendo o controle,
não consigo mais resistir,
está reascendendo em mim uma
antiga flama.
A desordem, infelizmente, está
posta.
Eu bem sei que corro um grande
risco;
tudo tem o seu custo na vida.
E, mesmo assim, lá vou eu de
novo!
Mamma
Mia!
abril 26, 2020
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Um pensamento atrás do outro:
trabalho, família, obrigações,
vontades, obsessões.
Um sentimento de estar perdido
em meio a um caos de alucinantes reverberações racionais;
um desejo de pôr em ordem todas
as coisas, de fazer do mundo um fiel autorretrato.
E eis que tropeço (por
insistência) em uma pedra psicodélica, caindo no vazio obliterante da
existência.
Percebo, pois, que uso muitas
palavras, muitos adjetivos, que penso demais.
Olho atentamente, mantenho a
minha atenção plena, e vejo a minha cabeça desaparecer;
sou um com o mundo e não há
mais um “eu”.
abril 15, 2020
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