Eu não
quero ser um monopolista da sua atenção, do seu afeto. Você sabe que eu exijo
pouco, muito pouco, não lhe dou muito trabalho. Você bem que poderia fingir que
se importa, demonstrar algum afeto, mesmo que insincero; migalhas são melhores
do que nada, pelo menos a princípio. Você me olha, mas não me vê; sou apenas um
estereótipo pra você, a imagem idealizada e sintética que facilita a sua falta
de vontade de saber quem eu realmente sou. No seu universo umbigocêntrico não
há muito espaço para mim; orbito o seu ego por inércia, por medo de perder o
que talvez nunca tenha conquistado, por uma falência total do meu suposto amor
próprio. E o pior de tudo é olhar para o espelho e notar que não está mais lá a
minha face, pois é você neste instante que vejo.
Eu
sinto que não sinto mais nada, mas eu sei que isso é falso; há uma angústia, um
desespero, um não sei quê que ronda silenciosamente, que vasculha, que oprime.
Finjo, portanto, que está tudo bem. A vida é isso mesmo, caminho sem volta,
algo insípido, doloroso, prolongado. Não há pessoas que gostaria de voltar a
ver, e as que vejo não me animam muito. Falta alguma coisa, inteligência
talvez, mas não é só isso, falta afeto, falta empatia, falta um olhar que não
seja ensimesmado, absorto ou perdido em divagações sobre aquilo que o mundo
supostamente nos deve.
outubro 28, 2019
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Nada traz mais infelicidade do
que a busca incessante pela felicidade.
Não quero ser a opção que
preenche a sua falta de opções.
Por que o seu silêncio é tão
cheio de enunciados?
Não escolhemos quais desejos
teremos, apenas decidimos o que fazer então com tais desejos.
Quero deitar, dormir e só
acordar no próximo século.
É tão dolorido desejar alguém
que não nos deseja.
Você nunca se cansa de si
mesmo!?
Filosofias, ideologias,
política… Prefiro muito mais o silêncio.
Todo mundo está falando ao
mesmo tempo, mas ninguém tem o que dizer.
Morte: desejo de não desejar
mais nada.
Você não vale nada, ponto.
Não se preocupe, vou continuar
falando apenas aquilo que você quer ouvir.
E que fique o dito pelo não
dito.
outubro 23, 2019
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Tenho medo de me perder:
tudo tem que ser controlado,
regrado, sistematizado,
elevado à enésima potência.
– Mas não há potência alguma!
Só mesmo uma vontade de não me
afetar nunca,
de não demostrar coisa alguma,
de ser, aos olhos dos outros,
perfeito.
Estou à deriva, criando
defesas,
flanando pelo mundo sem me
sentir parte de algo.
Tudo vazio, incompleto,
desconcertante...
Reflexo de mim mesmo,
um simulacro, uma cópia barata;
ser serviente tentando
ressignificar o nada.
outubro 20, 2019
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Minto para lhe agradar,
para que você me ame.
Faço das tripas coração,
de abismos pontes,
de medos versos.
Crio narrativas,
invento mundos,
deixo a vida em banho-maria.
Digo algo, depois desdigo.
Sou constante em minha
inconstância,
sol da meia-noite,
antítese de mim mesmo.
Minto, minto mais uma vez;
sinto, muito.
outubro 06, 2019
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