Estar
certo ou ser feliz – eis a questão. A grande maioria das pessoas prefere sem
titubear a segunda alternativa, achando que assim poderão estar certas também,
o que pode se mostrar um grande erro a longo prazo, pois a maior
improbabilidade que existe é a probabilidade de que tudo esteja ao nosso
alcance e controle. Não é à toa que o mundo é do jeito que é, e isso não é de
hoje, quem sabe os homens do Paleolítico fossem bem menos lascados do que nós;
a vida poderia ser muito mais dura naquela época, no entanto, devido sobretudo
às necessidades de sobrevivência da espécie, não havia tanto tempo ocioso para
ficar pensando em determinadas bobagens.
Mas voltando à questão inicial, os debates de ideias hoje em dia possuem
quase sempre apenas um lado - geralmente o mais errado e estúpido. Ninguém quer
mais procurar fatos e evidências. Refutar, aprofundar ou discutir algo dá muito
trabalho, o melhor é aceitar que as coisas são como são, não duvidando de nada.
Complicar pra quê, não é mesmo!? O melhor talvez seja ir tomar um sorvete,
agora! Como dizem, o universo está sempre conspirando a nosso favor, é...
talvez ele não tenha muito o que fazer.
Há
muito tempo, numa galáxia muito, muito desimportante, num quadrante esquecido
de um sistema solar ainda mais desimportante, encontramos um pálido ponto azul;
ao nos aproximarmos, porém, um pouco mais, verificamos tratar-se de um pequeno
planeta praticamente inofensivo e irrelevante. Os habitantes, quase sempre
entediados, desse planeta queriam audaciosamente chegar aonde nenhuma espécie
jamais esteve, pois achavam que assim, de alguma forma, sentiriam um pouco
menos de tédio.
Para
tal grandiloquente objetivo criaram e desenvolveram supercomputadores,
foguetes, satélites, robôs e naves espaciais. Primeiramente, colonizaram a lua
próxima, depois o planeta vizinho, o que consideraram apenas conquistas de
pouca monta, por isso, ainda insatisfeitos, saíram em busca de planetas
habitáveis fora de seu próprio sistema solar. E, para que esse intento fosse
possível, construíram uma grande espaçonave usando toda a tecnologia e ciência
acumuladas; uma nave totalmente autossuficiente para abrigar várias gerações
dessa espécie audaciosa e entediada, pois, já que se tratava de uma viagem
muito, muito longa, uma viagem na qual o curso inteiro de uma vida não era
quase nada, a nave teria que ser um lar, mesmo que provisório, para os vários
descendentes da equipe de bordo original.
A
viagem inicia-se. Gerações e gerações se sucedem. Após muito tempo perdidos no
espaço, enfrentando vários problemas técnicos, éticos e falhas no computador
central, não encontram nenhum planeta que possa sustentar minimamente a vida,
muito menos encontram outras formas de vida. A viagem prossegue. A imensidão e
o vazio parecem não ter fim. O objetivo inicial da missão acaba sendo
esquecido, e histórias e mitos, consequentemente, passam a povoar o imaginário
dessa desalentada tripulação.
Centenas
de anos depois, quando todos já não tinham quase mais nenhuma esperança, acabam
encontrando um sistema solar com colônias abandonadas. Ficam todos eufóricos
com a concretização de um sonho: realmente existe vida no universo, e vida
inteligente! Procuram avidamente por todos os lados, mas só encontram
resquícios de uma antiga e avançada civilização há muito extinta.
De repente,
uma esfera de um azul estonteante é detectada pelos radares e sensores da nave.
O computador central confirma a compatibilidade do planeta – finalmente um
lugar habitável. Após uma aterrisagem perigosa, os sobreviventes desta longa
jornada ficam extasiados com o que veem: imensas florestas, rios, mares e
oceanos, além de uma diversidade muito grande de seres vivos, formada
basicamente por animais estranhos com uma baixa capacidade cognitiva.
Curiosamente,
em algumas partes desse planeta abandonado, ainda era possível encontrar
pequenos sítios arqueológicos deixados pelos primeiros habitantes daquele
mundo. Muitas hipóteses do que teria acontecido foram aventadas, contudo, com o
tempo, até mesmo estas histórias acabaram no esquecimento. O planeta foi, aos
poucos, totalmente colonizado.
Porém,
apesar de tudo, o tédio ainda persistia.
agosto 10, 2016
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Uma
avenida de ipês amarelos; um coreto com peixes coloridos; vários restaurantes e
muita água rolando por baixo de uma velha ponte; uma igreja com suas colunas e
altares laterais; um colégio e seu porão; um coração de fumaça desfazendo-se
num céu de brigadeiro; uma estação de trem chamada vida; uma terra de amores, sonhos e
alegrias...
agosto 06, 2016
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